Antígeno das vacinas COVID pode causar trombofilia, trombocitopenia e lesões no endotélio vascular
- Daniel Sheanan Colmenero Lin
- 3 de jun.
- 5 min de leitura
Atualizado: 4 de jun.
Ativação descontrolada do sistema imunológico leva a coágulos, sangramentos e lesões em órgãos, apontam pesquisadores
Um estudo publicado na revista Blood demonstrou que a proteína Spike do vírus SARS-CoV-2 usada como antígeno das vacinas para COVID pode ativar um sistema de defesa do corpo chamado via alternativa do sistema complemento, levando a complicações graves como coágulos sanguíneos (trombofilia), danos aos rins, diminuição de plaquetas (trombocitopenia) e lesões em pequenos vasos sanguíneos (microangiopatia).
Como Isso Acontece?
O sistema de complemento é uma parte do sistema imunológico que ajuda a combater infecções, mas quando ativado de forma descontrolada, pode causar inflamação e danos aos tecidos. A pesquisa liderada por cientistas da Universidade da Pensilvânia mostrou que a proteína Spike do coronavírus ativa diretamente essa via, mesmo sem a presença de anticorpos.
Quando isso ocorre, o sistema de complemento ataca as próprias células do corpo, especialmente o revestimento dos vasos sanguíneos. Isso pode levar a:
Formação de coágulos (trombofilia): A inflamação e danos nos vasos facilitam a coagulação do sangue, aumentando o risco de trombose.
Queda nas plaquetas (trombocitopenia): As plaquetas, essenciais para a coagulação, são consumidas excessivamente, podendo causar sangramentos ou, paradoxalmente, mais coagulação.
Lesão renal e microangiopatia: Pequenos vasos sanguíneos são danificados, afetando órgãos como os rins.
MECANISMO DETALHADO: Como a Proteína Spike do SARS-CoV-2 Ativa a Via Alternativa do Complemento (APC) e Causa Complicações Trombóticas
A Figura 6 do artigo de Yu et al. (2020) propõe um modelo que explica como a proteína Spike (S) do SARS-CoV-2 se liga ao heparan sulfato (HS) na superfície das células endoteliais (que revestem os vasos sanguíneos), levando à ativação descontrolada da via alternativa do complemento (APC) e, consequentemente, a complicações como trombose, microangiopatia e lesão renal.

Passo a Passo do Mecanismo:
Ligação da Proteína Spike ao Heparan Sulfato (HS)
A proteína Spike do SARS-CoV-2 (especificamente a subunidade S1) se liga a moléculas de heparan sulfato (HS), um glicosaminoglicano presente na superfície de células endoteliais e outras células.
Essa interação não depende apenas do receptor ACE2, mas também de outras moléculas de superfície, como glicosaminoglicanos (GAGs), que facilitam a ancoragem do vírus.
Ativação da Via Alternativa do Complemento (APC)
A ligação da Spike ao HS induz uma conformação aberta da proteína, expondo regiões que ativam diretamente a APC.
A APC é normalmente regulada por proteínas inibitórias (como fator H), mas a presença da Spike supera essa regulação, levando a uma ativação excessiva.
Formação do Complexo de Ataque à Membrana (MAC) e Inflamação
A APC ativada leva à geração de C3b (um fragmento pró-inflamatório) e à formação do C5b-9 (MAC), que perfura as membranas celulares.
Isso causa:
Lesão endotelial: Morte das células que revestem os vasos sanguíneos.
Ativação plaquetária: Liberação de fatores pró-coagulantes, levando a trombose.
Liberação de citocinas inflamatórias: Piora a resposta imune e danifica tecidos.
Manifestações Clínicas Resultantes
Microangiopatia trombótica (MAT): Danos aos pequenos vasos sanguíneos devido ao depósito de fibrina e ativação plaquetária.
Trombocitopenia: Consumo excessivo de plaquetas na formação de microtrombos.
Lesão renal aguda: O rim é altamente vascularizado, tornando-o vulnerável à inflamação e trombose microvascular.
Trombofilia sistêmica: Coagulação descontrolada, aumentando o risco de trombose venosa e arterial.
Bloqueio da Ativação: Uma Possível Solução
Os pesquisadores testaram um inibidor do fator D, uma enzima essencial na via alternativa do complemento, e observaram que ele bloqueou com sucesso os efeitos nocivos da proteína Spike ao impedir a ativação do complemento, reduzindo a inflamação e a coagulação. Isso sugere que medicamentos que atuem nessa via poderiam ser úteis no tratamento de complicações graves da COVID-19 e da vacinação.
Por Que Isso é Importante?
Essa descoberta ajuda a explicar por que vacinados e alguns pacientes com COVID-19 desenvolvem coágulos e falência de órgãos. Também pode lançar uma luz às mulheres que ora apresentam dificuldades em engravidar devido ao diagnóstico de trombofilia que está fortemente ligada a falhas de implantação, abortos e complicações gestacionais. Além disso, abre caminho para novos tratamentos que visem o sistema de complemento, não apenas para COVID-19 e mitigação de reações adversas, mas possivelmente para outras doenças com mecanismos semelhantes. O estudo reforça a complexidade da COVID-19 e como o vírus pode desencadear reações imunológicas perigosas, destacando a importância de pesquisas contínuas para entender e combater suas complicações.
Conclusão
A interação entre proteína Spike, heparan sulfato e APC cria um ciclo vicioso de inflamação, dano endotelial e hipercoagulabilidade, explicando muitas das complicações graves da COVID-19 e suas vacinas. A inibição farmacológica dessa via pode ser crucial no manejo de pacientes com alto risco de trombose e falência de órgãos.
Referências Bibliográficas
Yu J, Yuan X, Chen H, Chaturvedi S, Braunstein EM, Brodsky RA. Direct activation of the alternative complement pathway by SARS-CoV-2 spike proteins is blocked by factor D inhibition. Blood. 2020 Oct 29;136(18):2080-2089. doi: 10.1182/blood.2020008248. PMID: 32877502; PMCID: PMC7596849.
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